Alguém notou que as únicas substâncias que o corpo absorve diretamente sem as modificar, são a água e o álcool.
No seu estudo etnobiológico, Terence Kenna, afirma que o uso não é anormal, mas natural porque tem muitos animais que comem plantas psicoativas. Ele alega que o desaparecimento da utilização de plantas alucinógenas é a causa de muitos problemas da sociedade de hoje.
Para se classificar como uma substância psicoativa, basta ter uma habilidade de entrar diretamente no sistema sangüíneo, e/ou modificar os sentimentos, uma vez que chega ao cérebro.
Uma vez que o álcool e as drogas não são nutrientes em si, a tendência do corpo é de considerá-las estranhas ou danosas, tóxicas, e assim o corpo tenta eliminá-las o mais rápido possível. O fígado é o órgão principal nessa função. Se a presença de tóxicos é grande e constante, o fígado fica eventualmente desgastado com patologias como a cirrose.
Existe uma polêmica enorme em volta da questão de se dependência química é uma doença ou não, é se é possível o dependente voltar a beber socialmente.
A questão obviamente depende de como definir doença, e cada profissão tem sua definição: por isso existe essa polêmica interprofissional.
Sinto que é mais uma questão de qual profissão tem direito de tratar o dependente. Nós não entramos nessa polêmica, mas consideramos dependência química uma doença por dois motivos: 1) para escaparmos da prisão devemos reconhecer que estamos dentro da prisão. Uma prisão que construímos no decorrer dos anos, barra por barra. Primeiro, cria um grande alívio no dependente que está começando o processo de recuperação. Ele aprende que tem uma doença fundamentada numa predisposição genética. Tira muito o peso de culpa e permite uma abertura melhor para aceitar o tratamento. 2) Esse motivo tem a ver com a questão acima, da possibilidade de voltar a beber socialmente. É freqüentemente falado em congressos de alcoolismo no Brasil que 5% dos residentes podem voltar a beber, mas não conheço o fundamento para esse estudo. Por um lado, é minha opinião que esses 5% nunca se tornaram dependentes, mas eram beberrões abusivos. Por outro lado, se for verdade, será que vale a pena ariscar todos os dependentes a voltar a usar controladamente para ver se pertencem a esses 5%? Acho irresponsável recomendar isso a um dependente. Sinto que essa medida é utilizada no desespero quando alguém está tratando um dependente e não tem muitos recursos terapêuticos. Cinqüenta e cinco anos de Alcoólicos Anônimos estabeleceram bem que, por qualquer motivo, uma vez dependente, sempre dependente. O exemplo freqüentemente utilizado é de uma vela, que quando é apagada estaciona, mas quando acesa novamente, continua de onde estava. Não, a vasta experiência histórica indica que o dependente nunca fica “curado”, nunca volta ao normal para poder utilizar substâncias psicoativas de maneira racional. É um doente e sempre vai ser um doente crônico, como um diabético ou hemofílico. Para nós, isto não é um problema, pois sentimos que a vida pode ser vivida melhor, mais cheia, sem o uso de qualquer substância que modifique o humor.
A palavra alcoolista foi introduzida no Brasil, e certamente tem a vantagem de caracterizar a dependência de álcool num sentido científico, aliviando as alusões morais, mas utilizamos a palavra alcoólatra porque é a denominação utilizada em Alcoólicos Anônimos.
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