Adicção, A.A., N.A., Doze Passos, Reflexões, Literatura, Clínica, Comunidade, Espiritualidade

TEMAS SOBRE ALCOÓLICOS E NARCOTICOS ANONIMOS, DOZE PASSOS, REFLEXOES, CLINICAS, COMUNIDADES, ESPIRITUALIDADE. ESPERO COM ESSAS MATERIAS, ESTAR COLABORANDO COM ALGUEM, EM ALGUM LUGAR, EM ALGUM MOMENTO DE SUA VIDA !

quinta-feira, 21 de março de 2024

recuperação x recaída

 Muita gente pensa que a recuperação é apenas uma questão de não usar drogas. Consideram a recaída um sinal de fracasso completo, e os longos períodos de abstinência, um sucesso total. 

O programa de recuperação, classifica essa ideia demasiada simplista.  Depois de um membro ter tido algum envolvimento com a irmandade, uma recaída pode ser uma experiência impressionante e provocar uma aplicação mais rigorosa do programa.  Da mesma forma, alguns membros se mantêm abstinentes durante longos períodos, mas a desonestidade e autoengano os impedem de desfrutar completamente a recuperação e a aceitação na sociedade. A melhor base para o crescimento, no entanto, ainda é a completa e contínua abstinência, o trabalho conjunto e a identificação com outros adictos nas reuniões. 
Embora todos os adictos sejam basicamente do mesmo tipo, o grau da doença e o ritmo da recuperação diferem de indivíduo para indivíduo. Às vezes, uma recaída pode estabelecer a base para uma completa liberdade. Outras vezes, só é possível alcançar essa liberdade através de uma vontade inflexível e obstinada de ficar limpo, aconteça o que acontecer, até passar a crise. Um adicto que, por qualquer meio, consegue superar, pelo menos por um tempo, a necessidade ou o desejo de usar, tem livre escolha sobre seus pensamentos impulsivos e ações compulsivas, atingiu um ponto que pode ser decisivo para a sua recuperação. Às vezes, esse é o ponto crítico da sensação da verdadeira independência e liberdade. A possibilidade de sairmos do programa e de voltarmos a controlar nossas próprias vidas é algo que nos atrai, mas parece que sabemos que o que temos hoje são resultados da fé num Poder Superior e o fato de darmos e recebermos ajuda por empatia.  Muitas vezes, em nossa recuperação, os velhos fantasmas ainda nos perseguem. A vida pode voltar a ser monótona, aborrecida, e sem sentido. Podemos nos cansar fisicamente de repetir nossas novas ideias, e podemos nos cansar fisicamente com nossas novas atividades, mas sabemos que, se não as repetirmos, certamente voltaremos aos nossos velhos hábitos. Se não usarmos o que temos, provavelmente, perderemos. Frequentemente, essas ocasiões são os períodos de maior crescimento para nós. Nossas mentes e corpos parecem cansados de tudo. Mesmo assim, as forças dinâmicas da verdadeira mudança, bem dentro de nós, podem estar agindo para nos dar as respostas que alteram nossas motivações internas e mudam nossas vidas. A nossa mente é a recuperação através da vivência dos doze passos, não a mera abstinência física. Nosso crescimento exige esforço e, como não há maneira de se incutir uma ideia nova numa mente fechada, tem que haver uma abertura. Como só nós mesmos podemos fazer isso, precisamos reconhecer dois dos nossos inimigos inerentes: a apatia e a procrastinação. Nossa resistência à mudança parece arraigada, e somente uma explosão nuclear provocará alguma mudança, ou iniciará um novo curso de ação. Se sobrevivermos a ela, a recaída poderá representar o detonador do processo de demolição. Uma recaída ou, às vezes, a morte de algum conhecido íntimo pode nos despertar a necessidade de uma vigorosa ação pessoal. Tem-se visto adictos chegarem à irmandade, experimentarem o programa e manterem-se limpos durante um período de tempo. Com o tempo, alguns adictos perderam o contato com outros adictos em recuperação e acabaram voltando à adicção ativa. Esqueceram que é realmente a primeira droga que inicia o ciclo mortal novamente. Tentaram controlar, usar com moderação, ou usar apenas certas drogas. Nenhum destes métodos de controle funciona para adictos. A recaída é uma realidade. Pode acontecer e realmente acontece. A experiência demonstra que, quem não trabalha o programa de recuperação, diariamente, pode recair. Vimos eles voltarem em busca de recuperação. Talvez tivessem estado limpos, durante anos, antes de recaírem. Se tiveram sorte o bastante de conseguirem voltar, estarão muito abalados. Eles nos dizem que a recaída foi mais horrível do que o uso anterior. Nunca vimos uma pessoa que vive o programa, recair. As recaídas são frequentemente fatais. Já fomos a enterros de pessoas queridas que morreram de uma recaída. Morreram de várias maneiras. Muitas vezes, vemos pessoas recaídas, perdidas, durante anos, vivendo na miséria. Aqueles que acabam em prisões ou instituições podem sobreviver e, talvez, sejam reapresentados ao grupo. Em nossas vidas diárias, estamos sujeitos a quedas emocionais e espirituais, que nos tornam indefesos contra a recaída física com o uso de drogas. Por ser a adicção uma doença incurável, adictos estão sujeitos a recaídas. Nunca fomos forçados a recair. É nos dado uma escolha. A recaída nunca é acidental. A recaída é sinal de que temos reservas para com nosso programa. Começamos a negligenciar o programa e deixar brechas em nossas vidas diárias. Sem perceber as ciladas à nossa frente, tropeçamos cegamente na crença de que podemos conseguir por nós mesmos. Mais cedo ou mais tarde, caímos na ilusão de que as drogas tornam a vida mais fácil. Acreditamos que as drogas, tornaram mais fácil a vida. Acreditamos que as drogas podem nos modificar, e esquecemos que estas mudanças são mortais. Quando acreditamos que as drogas resolverão nossos problemas e esquecemos o que elas podem fazer contra nós, estamos realmente em apuros. Se as ilusões de que podemos continuar a usar ou parar de usar sozinhos não forem estilhaçadas, estaremos certamente assinando a nossa própria sentença de morte. Por alguma razão, o descuido de nossos afazeres pessoais diminui a nossa autoestima e estabelece um padrão que se repete em todas as áreas das nossas vidas. Se começarmos a evitar as nossas novas responsabilidades, faltando a reuniões, negligenciando o trabalho do décimo-segundo passo, ou não nos envolvendo, nosso programa para. Coisas deste tipo nos levam à recaída. Possivelmente, sentimos uma mudança acontecendo em nós. Nossa capacidade de manter a mente aberta desaparece. É possível que fiquemos com raiva ou ressentimentos com tudo e com todos. Possivelmente, começamos a respeitar as pessoas mais chegadas. Nós nos isolamos. Cansamos de nós mesmos em pouco tempo. Voltamos aos padrões de comportamento mais doentios, mesmo sem ter que usar drogas. Quando um ressentimento ou qualquer outra reviravolta emocional ocorre, a falta da prática dos doze passos pode resultar numa recaída. O comportamento obsessivo é um denominador comum para pessoas adictas. Não gostamos de estar errados, mas precisamos lembrar-nos de onde viemos e que a nossa doença ficará progressivamente pior, se usarmos. É aí que precisamos da irmandade. Esquecemos que hoje temos uma escolha. E ficamos mais doentes. Focalizamos qualquer coisa que não está indo de nossa maneira e ignoramos toda a beleza em nossas vidas. Sem nenhum real desejo de melhorar as nossas vidas, ou até mesmo de viver, apenas nos afundamos cada vez mais e mais. Alguns de nós nunca conseguiu voltar. Às vezes vemos o nosso comportamento passado como parte de nós mesmos, e como parte de nossa doença. Damos novamente o primeiro passo, as coisas melhoram e pensamos que não precisamos realmente deste programa. A petulância é um sinal vermelho. A solidão e a paranoia voltarão.  As coisas pioram. Damos o primeiro passo de verdade, desta vez interiormente. Haverá momentos, no entanto, em que sentiremos realmente vontade de usar. Precisamos lembrar-nos de onde viemos e que, desta vez, será pior. Quando esquecemos o esforço e o trabalho que tivemos para conseguir um período de liberdade em nossas vidas, logo vem a falta de gratidão, a autodestruição começa novamente. Se não agimos logo, corremos o risco da recaída. Mantendo nossa Ilusão da realidade, em vez de usar as ferramentas do programa, retornaremos ao isolamento. A solidão nos matará por dentro e as drogas, que quase sempre vem em seguida, podem completar o processo. Os sintomas e sentimentos que vivemos no final do uso voltarão mais fortes do que antes. A recaída pode ser a força destrutiva que nos mata, ou a que nos leva a perceber quem e o que realmente somos. Para nós, usar é morrer em todos os sentidos.  Relacionamentos pode ser uma área terrivelmente dolorosa. Colocarmos expectativas em nós e nos outros. Fantasiamos e projetamos o que acontecerá. Ficamos com raiva se aquilo que planejamos não der certo, embora às vezes não passem de meras fantasias. Os velhos pensamentos e sentimentos de solidão, desespero, desamparo, etc. Podemos trabalhar estes sentimentos negativos, escrevendo sobre o que queremos, o que estamos pedindo, o que conseguimos, e partilhando como nosso padrinho ou outra pessoa de confiança.  Quando deixamos os outros compartilharem conosco a sua experiência, conseguimos ter esperança de que vai melhorar. Frequentando reuniões diariamente, vivendo um dia de cada vez e lendo literatura, parece que nossa atitude mental se encaminha para o positivo de novo.  A boa vontade de tentar o que funcionou para os outros é vital. Mesmo quando sentimos que não queremos frequentar reuniões, elas são uma fonte de força e esperança para nós. É importante partilhar nossos sentimentos quando temos vontade de usar. É importante lembrar que o desejo de usar passará. Não temos que usar nunca mais, independente de como nos sentimos. Todos os sentimentos acabarão passando. A progressão da doença é um processo constante, mesmo durante a abstinência. O esforço para receber ajuda é o começo de uma luta que nos libertará. Boas ideias e boas intenções não ajudam se não as colocarmos em ação. Temos que demolir os muros que nos aprisionam. A partilha honesta nos libertará para a recuperação. Somos gratos por ser bem recebidos nas reuniões. Descobrimos que o sentimento de ajudar aos outros motiva a fazer o melhor de nossas vidas. Descobrimos que dor partilhada é dor diminuída. A recuperação tem de vir de dentro, e ninguém se mantém limpo para ninguém, a não ser para si próprio.  Na nossa doença, estamos lidando com um poder violento, destrutivo e maior do que nós, que pode levar a recaída. Se tivermos recaído, é importante mantermos em mente que temos de voltar às reuniões rapidamente. É questão de tempo para que nossa traiçoeira doença, nos leve a um ponto sem retorno. Assim que usamos, estamos sob o domínio da nossa doença. Muitos de nós ficamos limpos num ambiente protegido, tal como um centro de reabilitação ou clínica de recuperação. Quando voltamos para o mundo, nós nos sentimos perdidos, confusos e vulneráveis. Indo a reuniões, com a maior frequência possível, reduziremos o choque da mudança. As reuniões proporcionam um lugar seguro para partilhar. Temos que usar o que aprendemos, ou perdemos numa recaída.  Manutenção espiritual significa recuperação contínua. As recaídas também podem cair numa outra armadilha. Podemos duvidar que possamos parar de usar e nos mantermos limpos. Nunca conseguimos ficar limpos por nossa conta. Nós nos castigamos quando voltamos ao programa. Imaginamos que nossos companheiros não respeitarão a coragem que tivemos em voltar. Aplaudimos com toda sinceridade. Não é vergonhoso recair – a vergonha está em não voltar. Uma vez que passamos limpos por um momento difícil, ganhamos uma ferramenta de recuperação que podemos usar de novo e outra mais. Se recairmos, podemos sentir culpa e vergonha. A recaída é vergonhosa, mas não podemos livrar a cara e salvar nossa pele ao mesmo tempo. Descobrimos que é melhor voltarmos para o programa o mais rápido possível. É melhor engolirmos o nosso orgulho do que morrermos ou ficarmos insanos para sempre. Agora, sabemos que a velha máxima “uma vez adicto, sempre um adicto” é mentira e não será mais tolerada, nem pela sociedade nem pelo adicto. Nós nos recuperamos, sim! A recuperação começa com a rendição. A partir daí, cada um de nós é lembrado de que um dia limpo é um dia ganho. No grupo, as nossas atitudes, pensamentos e reações mudam. Percebemos que não somos alienígenas e começamos a compreender e aceitar quem somos. Para nós, a adicção é a obsessão de usar as drogas que estão nos destruindo, seguida de uma compulsão que nos força a continuar. Buscamos a ajuda de adictos que estão desfrutando a vida livres da obsessão de usar drogas. Podemos nos manter limpos e apreciar a vida, se nos lembrarmos de viver "só por hoje". Não precisamos compreender este programa para que ele funcione. Só temos que seguir as sugestões. 

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