Adicção, A.A., N.A., Doze Passos, Reflexões, Literatura, Clínica, Comunidade, Espiritualidade

TEMAS SOBRE ALCOÓLICOS E NARCOTICOS ANONIMOS, DOZE PASSOS, REFLEXOES, CLINICAS, COMUNIDADES, ESPIRITUALIDADE. ESPERO COM ESSAS MATERIAS, ESTAR COLABORANDO COM ALGUEM, EM ALGUM LUGAR, EM ALGUM MOMENTO DE SUA VIDA !

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Admitir a derrota completa

Quase ninguém se dispõe a admitir a derrota completa; os instintos naturais gritam contra essa ideia. O álcool nos esvazia de toda autossuficiência e toda vontade de resistir às suas exigências. Só conseguimos pensar nele desde o acordar até o “desmaiar”, e não percebemos nossa falência total como seres humanos. O álcool, além de sua propriedade viciante, possui também um efeito psicológico que modifica o pensamento e o raciocínio. Uma dose pode mudar o processo mental de um alcoólico, de modo que ele acha que pode aguentar outra, outra e outra... Para ele, viver sem o álcool é o mesmo que não ter vida. Uma vez ingerida a primeira dose, a compulsão se desencadeia. Soberba, avareza, luxúria, inveja, ira, gula, preguiça, manipulação emocional, negação, justificativas, autopiedade e racionalizações, se tornaram para o alcoólatra como o ar que respiram. São três as falências totais a que são submetidos os alcoólicos: “física”, o organismo passa a rejeitar o álcool; o alcoólatra tenta parar ou diminuir a quantidade mais daí, o corpo passa a exigi-lo através dos sintomas da crise de abstinência esse então, ingere o álcool para poder superar as dores desse sintoma, em doses maiores ainda, virando dessa forma um ciclo vicioso que se repete diariamente. “Mental”, é a obsessão, pensamentos ininterruptos de como vamos usar mais álcool, mesmo que isso signifique manipular pessoas, roubar, mentir, adiar um compromisso etc. “Espiritual”, a parte espiritual da doença é o total egocentrismo, o alcoólatra passa por cima de amigos, responsabilidades, pai, mãe, esposa, trabalho ou qualquer um que tente de alguma forma, impedir seu desejo incontrolável de usar mais álcool. A palavra “admitir” no primeiro passo é insuficiente, e ele vai além da palavra “aceitar”. Um fato deve ser observado, ou seja, a necessidade de distinguir entre submissão e rendição. No primeiro caso, um indivíduo aceita a realidade consciente, mas não no subconsciente. Ele aceita como fato pratico que momentaneamente não pode derrotar a realidade, mas espera que um dia vá vencer, o que implica a não-aceitação real e presença de tensão. Por outro lado, quando um indivíduo se rende, a habilidade de aceitar a realidade funciona num nível inconsciente e a tensão desaparece. O ato de rendição é uma ocorrência inconsciente, não provocada pelo paciente, mesmo que ele assim o deseje. Uma pessoa não pode simplesmente declarar que aceita qualquer coisa – senão a aceitação não é total, mas só da boca para fora. Existem palavras que descrevem essa meia aceitação, como: submissão, resignação, cessão, complacência, reconhecimento, concessão e assim por diante. O importante além de admitir, é se render ao fato de que somos completamente impotentes perante o tirano “Rei-Álcool”. No primeiro gole, ele já começa a nos empurrar para o fundo-do-poço. E de lá só sairemos quando nos prontificarmos a aceitar e escutar, como os que se encontram à beira da morte, as palavras de tantos outros companheiros que, com certeza, já passaram por esse caminho de destruição, e através de Alcoólicos Anônimos conseguiram se manter em recuperação. Devemos nos prontificar a fazer qualquer coisa que nos livre da obsessão impiedosa, e a primeira delas, é rendermo-nos totalmente e nos conscientizar da nossa impotência perante o álcool. Talvez não sejamos culpados pela nossa doença, mas certamente somos responsáveis por mantê-la estacionária.

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