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domingo, 4 de novembro de 2007

História de Leonardo Nunes

A HISTÓRIA DESCONHECIDA DE LEONARDO NUNES.

Passados 50 anos do descobrimento, enquanto alguns missionários permaneceram em Portugal para pregar as Verdades e o desprendimento das riquezas, o primeiro grupo de missionários “penitentes”, composto por dez sacerdotes jesuítas da Companhia de Jesus, vieram às Terras do Cruzeiro para plantar as primeiras sementes do Cristianismo entre os gentios. Chefiados por Manoel de Nóbrega, formado em Direito e tido como “Procurador dos Pobres”, integrou o Grupo Aspicueta Navarro, Vicente Rodrigues, Diogo Jácome e o incansável Leonardo Nunes, nascido em 21 de setembro de 1509. Membro de aristocrática família portuguesa, era culto, inteligente, músico e cantor. Foi o primeiro voluntário a aderir à missão, tornando-se homem de confiança de Manoel de Nóbrega.
Os jesuítas aportaram na Bahia em 1549. A primeira impressão das terras foi magnífica, mas, no tocante aos que aqui encontraram, foi dolorosa. Leonardo Nunes assim se expressou: Se dez corpos tivesse, a todos eu usaria para animar e clarear a mente de toda essa gente desse novo país. Após exercer o apostolado em Salvador, Leonardo Nunes, em companhia de Diogo Jácome, foi o primeiro missionário a percorrer as capitanias ao sul da Bahia: Ilhéus, Porto Seguro e Espírito Santo. Iniciou a catequese dos índios, e, ao mesmo tempo, chamou de novo à religião o heterogêneo elemento branco da povoação, que naquela fase procedia com mais selvageria do que os nativos. Infundindo confiança, ele realizou os primeiros batismos e missas aparou arestas.
A acolhida a Leonardo Nunes, primeiro missionário a pisar terras paulistas, foi amorosa. Na vila de Santos protegeu e abrigou índios, seguindo para São Vicente, que viria a ser o centro de suas irradiações apostólicas. Aprendeu o idioma tupi, e, em companhia de Diogo Jácome, edificou uma capela, onde organizou um grupo de pessoas aptas a ajudá-lo na catequese. Instalou um seminário, que foi o primeiro colégio da povoação e do brasil, do qual Leonardo Nunes foi o primeiro mestre de espírito e de letras, ensinando latim e português. Apesar de suas atividades estarem concentradas em São Vicente, se desenvolveram até Santa Catarina, pois contava com grande admiração dos índios da Laguna dos Patos.
O crescimento das povoações e a chegada de mais missionários motivou Nóbrega a instalar novos colégios para facilitar a expansão da fé. E a 25 de janeiro de 1554, um grupo de 12 jesuítas, entre eles Leonardo Nunes, inaugurou uma casa de residência e colégio nos campos de Piratininga. Alguns dias depois, o jovem padre espanhol José de Anchieta foi nomeado regente desse colégio, iniciando relevante serviço de instrução e catequese aos índios. Em 1560, erguia-se o novo prédio que daria origem ao povoado, com o nome do santo do dia: São Paulo, seu padroeiro. O prédio ultrapassou os anos e hoje ainda se encontra no ponto que se transformou no centro da metrópole paulista.
Tido, também, como um dos fundadores de Santo André, Leonardo Nunes retornou ao litoral. Desta vez, dirigiu-se à aldeia dos índios de Peruíbe, fundando por volta de 1556 uma igreja, no alto de uma colina, local onde se fundaria Peruíbe. Entretanto, o missionário foi eleito para ir a Roma e Portugal, informar o estado da catequese no Brasil e as dificuldades enfrentadas. Embarcando em Santos, em1560, uma tempestade fortíssima abateu-se sobre o navio, naufragando no dia 30 de junho. Do triste naufrágio alguns sobreviventes testemunharam os derradeiros momentos do missionário: antes de morrer, permaneceu salvando alguns náufragos e acabou por afogar-se, erguendo a cruz em uma das mãos.

O valor da obra pioneira de catequese realizada por Leonardo Nunes no Brasil é inconteste, cuja história se confunde com a dos primórdios nacionais. Espírito apostólico resoluto, teve papel preponderante na libertação de índios escravizados pelos portugueses, especialmente recompondo famílias indígenas, separadas pela insensibilidade dos colonos portugueses. Pode-se dizer que ele foi também um dos responsáveis pelas transformações dos costumes vigentes na época: cantor de boa voz, habilmente introduziu a missa cantada e procissão com música. A partir daí, os jesuítas começaram a empregar o canto e a música como instrumento do apostolado, para atrair mais de perto a sensibilidade dos indígenas.
Em Peruíbe, Leonardo Nunes não permaneceu muito tempo, mas o suficiente para registrar na memória do povo sua legendária figura. Hoje, transformada em acolhedora estação climática, apresenta como peculiaridade a existência de uma aldeia indígena em suas imediações, onde índios Guaranís vivem em estágio semi-civilizado, além de um fato significativo: a existência em suas terras das ruínas de certa edificação, que teria sido uma igreja quando da fundação da cidade. São as Ruínas do Abarebebê, ou Convento Velho – palco da missa e cenário do devotamento de Leonardo Nunes, que permaneceram como testemunho da sua presença e da sua marcante atuação.
Marco histórico de Peruíbe, a igreja seria a primeira construída no Brasil, devido ao material usado na construção, que hoje seria singular: cascalho de ostras, óleo de tubarão e de baleia e pedras. Uma combinação que resultou tão resistente que lá ainda permanecem algumas partes das grossas muralhas, sobre as quais avançaram as ervas e os gravatás. Ali, Leonardo Nunes rezou missa, ali doutrinou indígenas e ali conviveu ao lado de soldados, levando a mensagem do Cristo. Registrando o significado histórico, as Ruínas do Abarebebê foram tombadas pelo Condephaat e transformadas em ponto turístico aberto à visitação pública, e tem recebido grande número de visitantes.
Principal figura na catequese em Peruíbe, Leonardo Nunes passou a ser conhecido pelos índios pelo sugestivo nome de Abarebebê, ou seja, Padre Voador. Tal fato talvez fosse estranho, se não se justificasse por uma capacidade incomum: de estar em vários lugares diferentes ao mesmo tempo, não importando a distância, em tempo considerado extraordinário por quantos o conheceram. Para a mentalidade indígena, outra explicação não poderia haver, senão a capacidade sobrenatural de voar.
Há a lembrança de uma carta sua no acervo da Biblioteca Municipal, onde pode se ler esta bonita mensagem escrita antes de sua partida para Portugal: (...) muitas vezes tivemos que nos embrenhar pelas matas sem levar sequer um facão para abrir caminho e tendo que fazê-lo com as próprias mãos (...). Os silvícolas sem sabem, eram muito gentís e quando não estavam em guerra, colaboravam com nossa alimentação (...) nosso trabalho foi difícil (...). Deus nunca nos desamparou (...) muitos irmãos da Companhia de Jesus pereceram cá nestas matas, nas praias deste país-continente, muitos deram suas vidas para que a Luz de Deus, através do Evangelho de Cristo, chegasse até seu destino (...)
A atividade extraordinária de Leonardo Nunes mereceu de seus contemporâneos um carinho especial, que foi transmitido à posteridade nas diversas lendas que envolvem seu nome. Dentre os fatos mais interessantes e pitorescos, encontra-se no livro Lendas Brasileiras, de Alceu Maynard de Araújo, a narração intitulada Vagalumes do Abarebebê, um dos mais singelos acontecimentos que cercam a memória do lendário jesuíta: durante a sua permanência em Peruíbe, o Abarebebê costumava, todas as noites, observar o espetáculo notável que a reunião de vagalumes proporcionam através da luz fosforescente que emitem. Afirmava seremos vagalumes seus amigos noturnos.
Conta-se que todos os anos, no aniversário da morte de Leonardo Nunes, as ruínas da igreja por ele construída ficam completamente iluminadas. É nomes de junho, mas não se sabe o dia certo, é depois que as tainhas desovam. É a partir daí que vagalumes se reúnem para iluminar as ruínas da igreja, que aparece tal como era, inteirinha, janelas abertas e iluminadas, resplandescendo de milhares de vagalumes ali reunidos. Conhecido como o milagre das luzes, o fato foi narrado por muitas testemunhas oculares. É a natureza, rendendo seu culto silencioso ao amigo fraterno.

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