Quase
ninguém se dispõe a admitir a derrota completa; os instintos naturais
gritam contra essa ideia. O álcool nos esvazia de toda autossuficiência e
toda vontade de resistir às suas exigências. Só conseguimos pensar nele
desde o acordar até o “desmaiar”, e não percebemos nossa falência total
como seres humanos.
O álcool, além de sua propriedade viciante,
possui também um efeito psicológico que modifica o pensamento e o
raciocínio. Uma dose pode mudar o processo mental de um alcoólico, de
modo que ele acha que pode aguentar outra, outra e outra... Para ele,
viver sem o álcool é o mesmo que não ter vida.
Uma vez ingerida a
primeira dose, a compulsão se desencadeia. Soberba, avareza, luxúria,
inveja, ira, gula, preguiça, manipulação emocional, negação,
justificativas, autopiedade e racionalizações, se tornaram para o
alcoólatra como o ar que respiram.
São três as falências totais a que
são submetidos os alcoólicos: “física”, o organismo passa a rejeitar o
álcool; o alcoólatra tenta parar ou diminuir a quantidade mais daí, o
corpo passa a exigi-lo através dos sintomas da crise de abstinência esse
então, ingere o álcool para poder superar as dores desse sintoma, em
doses maiores ainda, virando dessa forma um ciclo vicioso que se repete
diariamente. “Mental”, é a obsessão, pensamentos ininterruptos de como
vamos usar mais álcool, mesmo que isso signifique manipular pessoas,
roubar, mentir, adiar um compromisso etc. “Espiritual”, a parte
espiritual da doença é o total egocentrismo, o alcoólatra passa por cima
de amigos, responsabilidades, pai, mãe, esposa, trabalho ou qualquer um
que tente de alguma forma, impedir seu desejo incontrolável de usar
mais álcool.
A palavra “admitir” no primeiro passo é insuficiente, e ele vai além da palavra “aceitar”.
Um
fato deve ser observado, ou seja, a necessidade de distinguir entre
submissão e rendição. No primeiro caso, um indivíduo aceita a realidade
consciente, mas não no subconsciente. Ele aceita como fato pratico que
momentaneamente não pode derrotar a realidade, mas espera que um dia vá
vencer, o que implica a não aceitação real e presença de tensão.
Por
outro lado, quando um indivíduo se rende, a habilidade de aceitar a
realidade funciona num nível inconsciente e a tensão desaparece.
O ato de rendição é uma ocorrência inconsciente, não provocada pelo paciente, mesmo que ele assim o deseje.
Uma
pessoa não pode simplesmente declarar que aceita qualquer coisa – senão
a aceitação não é total, mas só da boca para fora. Existem palavras que
descrevem essa meia aceitação, como: submissão, resignação, cessão,
complacência, reconhecimento, concessão e assim por diante.
O
importante além de admitir, é se render ao fato de que somos
completamente impotentes perante o tirano “Rei-álcool”. No primeiro
gole, ele já começa a nos empurrar para o fundo-do-poço. E de lá só
sairemos quando nos prontificarmos a aceitar e escutar, como os que se
encontram à beira da morte, as palavras de tantos outros companheiros
que, com certeza, já passaram por esse caminho de destruição, e através
de Alcoólicos Anônimos conseguiram se manter em recuperação.
Devemos
nos prontificar a fazer qualquer coisa que nos livre da obsessão
impiedosa, e a primeira delas, é rendermo-nos totalmente e nos
conscientizar da nossa impotência perante o álcool.
Talvez não sejamos culpados pela nossa doença, mas certamente somos responsáveis por mantê-la estacionária. COMPARTILHE !!!
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